Resíduo

todo poema recomeça quando pousa
simultâneos pés
um no claro
outro no escuro
nos dois lados do horizonte

pouco antes de sumir
completo
absorvido por um vazio acolhedor
que o devolve aos excessos da palavra
e do silêncio.

Boas Vindas

sou
este desabrigo
( um
não-lugar
ao sol )

- minha
solidão
não tem paredes

: entre
a cas(c)a é sua.

sou

metade medo
metade monstro

o resto é massa
de modelar.

Sequência

tão fria
e escura
a noite
parece
real

: um
Poema
ignora
o poeta
e segue
mudo.

Instante

um
rio infinito

deságua
na
imensidão

do
poema.

Poema

foi
você
quem
disse

tudo
que
sei

de
mim.

Sono

um
túnel
atra/
vessa

o
Tempo
quando

não
desaba

Simples assim...

quando
Você me olha
eu sinto
que Você
me enxerga

quando
Você me abraça
eu sinto
que Você
me Abraça

quando
Você me beija
eu sinto
que Você
me Beija

quando
Você me deixa
eu sinto
que Você
permanece...

Poética

já no começo
da conversa

transformo
nada
em
coisa nenhuma

: ou
vice-versa.

Saída de emergência

sem carinho
nem amor
falta luz
falta calor

transformo
em cobertor
meu tapete
voador.

Loucura

Quando te vi
pela primeira vez
- meus olhos
começaram a existir

: arranquei-os
pra enxergar melhor.

Poluição

todo dia
é um
espetáculo

que o Sol
assiste
escondido.

as batidas
do coração
drenando

um mar
de silêncio

Quase 3:00 hs da tarde...

e essa vontade
de fechar os olhos
apagar o sol

e deixar o escuro
no escuro.

Trama

quando a gente se abismar
( Corpo beirando Corpo )
todas as linhas do mapa
vão tecer nosso Destino
então vamos nos perder

costurados Um no Outro

e na paisagem
onde Tudo será
o mesmo emaranhado de Nós.

Resumo-resposta

em
noites
de
sol

minha
pele

sua.

Namorados

sempre
assim
pelo
nome
sobrenome

: de
Querido

- a Vida
me
chama

de dentro
da
palavra
Amor.

Fruto - Delírio

o deserto
é a casca
- o sol
o caroço

o Oásis
é a polpa
: e Nós
os sabores

desAmor

perdi
minha
capacidade
de
te inventar

- toda
linda
maravilhosa
( a Mulher
dos
meus sonhos )

: e agora/
agora
você
não existe
mais

nem menos.

Amor

somos
um par
de Olhos

na
paisagem

somos
Um
do outro

: a
Paisagem

Musa

sua
língua
em
minha
orelha

acende
o
poema

cresce
abs/
trato
é cobra
é pau
ave

e
orelha
também.

in finito

no chuveiro
a Musa
irriga
a pele
solo fértil
( a parede
do
Mistério )

: germina
poesia
acaricia
versos
lambe rimas
morde eros

e
eu sinto
suas prêsas
fixas
no instante
( em mim )

e sorrio
eu sou rio
& sou mar
gens.

Limitação II

não sei
onde
dorme
a palavra
Paz

nem
como
acordá-la
da
guerra.

Reflexo

tenho um silêncio
pra te mostrar
( no espelho )

- quando o Sonho
amanhecer...

Verdade

eu tenho um Sonho
pra te mostrar
( no espelho )

quando o Silêncio
amanhecer...

Epitáfio

deito aqui
os ossos
sem alma
e memória
: restos
apenas

de tudo
aquilo que
até ontem
eu era
- não sou
mais

: navio
e tripulação
(de amores)

- fantasmas.

Vem comigo...

minha dor ruiu
sem nome e sentido

joguei o entulho
no esquecimento

não existe mais
( paredes em mim )

: agora eu posso
ver a paisagem...

Lobas & Gatas

sempre
nas praias
desertas
onde nunca
estou

invisto
meu Tempo
esculpindo
Delicias

- em areia
movediça -

: depois
eu
desapareço
nElas

Alimento

hoje quero bocas
todas as bocas
unhas e dentes...
(depois escrevo asas
e vôo...)

: decore minha alma
devore meu corpo

que hoje
só hoje
(e sempre)
o poema é minha alma

eu
sou a carne do poema.

mago

fazia amanhecer
ou anoitecer
num abrir e fechar
de olhos

as pálpebras
eram seus únicos
poderes.

Ainda Sobre

No escuro
o Mistério muda
de pele

E a (i)realidade
nela tatuada.

Observando

como se fossem ariscos
ainda os sapatos

assim em nós amarrados

como se fossem bichos
de estimação.

Anterior

modelados
então
na matéria
levíssima
do vôo
nem sempre
foram
possíveis
passarinhos
à partir
de outros
passarinhos.

Reminiscência

11 anos
e o brinquedo
que
eu mesmo construi

quebrou

: a minha perna.

Perdoável

meus braços abertos
e todo abraço
só acontece
na despedida

meus braços abertos
são portas
abertas
só de saída(?)

(pre)juízo final

aconteça
o que
acon-
tecer

nada mais
acon-
tece
antes

Parceria

traga
a luz
que

o dia
eu
faço.

Etéreo Porto

eu sou
todo
arrepios
todo
arrepios

e seus Lábios...
e seus Lábios...

: duas
eternidades
pousadas
em
mim.

Poema

a Tinta
que sou
não sai
da caneta

com Ela
eu teço
tempero
o Aço

acendo
o Calor
o Carinho
Afeto:

a Palavra
Diana
é minha
lã.

Dísticos

somos
essa Festa
de hormônios
e desejos

todas
as Palavras
do mundo
em ebulição

dois uni/
Versos
cantando
o Instante

para
que ninguém
jamais
esqueça

: o Futuro.

Plenitude

meu corpo
procura
o seu

seu corpo
procura
o meu

: Nós
somos um
no outro

os dois
endereços
de Tudo.

arTesão

eriço
teus pêlos
todos
enquanto

teço
Passagens
secretas

de entrada
de saída
no Tempo
no Espaço

- em Você.

Brevidades

acolhido
em suas
entranhas

sinto
o calor
do mistério

somos
(de)feitos
de estrelas

nosso
brilho
é distante.

Brinquedos

viro do avesso
o seu
Deserto

: me abraça
com suas águas

Uma deusa

me morde
me arranha
me amassa

reinventa
desinventa
e me deixa
o mesmo:

- o outro
de sempre.

Aceitação

Vem Amor
mas venha logo
venha agora

que tudo é tudo
e eu te espero
aqui:

na minha casa
na minha cama
na minha carne

- ou na sua.

Blindagem

perda
sobre
perda
todo feito
de silêncios

não dá pra
ficar em cima

o muro
é alto demais
e apaga
o outro
lado.

Merda

quando
diabo
foge
da cruz

voa
em
minha
direção

Junho

Tão frio
aqui onde escrevo
as palavras

não querem
sair da caneta.

Enquanto isso...

minh' alma
geme-a

ela
não
eu também
nós
não

existimos
ainda.

(d)evolução

os anjos
todos
que a Pureza
abateu

jamais
assexuados
caíram
em si.

Concomitante

A violência
cresce

Nos dois lados do muro

Que também
cresce.

mini conto

- E se for amor...
- E se for amor...
- E se for amor...

Repetia em pensamento.

- E se for...
- E se for...
E se foi.

eu também eu também

sou
a parede
onde

colo
o ouvido
quando

quero
ouvir o
cor-

ação
do
segredo

Instantâneo

a mosca
e sua
aranha

dois
mistérios
e uma
teia

tecidos
do mesmo
fio.

Quarto

o
radio
que/
brado
em
silêncio

em
silêncio
o
Silêncio
de
algo

que
jamais
existiu.

Dani(-se)

Eu vou
deixar
você molhada

Eu vou
deixar
você Eu vôo

: ainda
mais
alto
e longe
e dentro aqui
na palma

da
minha mão.

na Verdade & no Mistério

sou mesmo dono do meu Sonho
e da Noite acima do Azul
onde chamo as Estrelas todas
pelo Nome que só eu sei

Tudo aqui é tão meu tão nosso
na Verdade e no Mistério
de cada Um - por isso Hoje
decidi amanhecer Passarinhos
cantando o Sol a Chuva o Vento
o Chão enfim o próprio Sonho

que me sonha também.

Bagunça

o meu Sonho
não tem mais
- dentro
não tem mais
- fora

o meu Sonho
( de Amor -
talvez )
não é mais
Sonho

é
lugar nenhum
terra
de ninguém

: está
todo revirado
por dentro
e por fora.

Oral

mergulho
de
cabeça
no
seu Silêncio

: o seu
Silêncio
é minha luva.

Oferenda

chego
a pé
: mãos
vazias

ofereço
algo
que
você

ainda
não
sabe
o que é

talvez
mereça.

Purificação

Troquei tudo
pela Escrita
( eu sempre
fui trocado por menos )

e hoje
não tenho nada
- nada mesmo -
: nem amor
nem poema que presta

- mas ainda
acredito na Vida
sei que o Amor existe
e que a Poesia
tá bem.

Carinhoso, cruel & afiado

corto as
asas
de tudo que

inte rompe
meu vôo.

Sentado na cama

no momento
estou só
carente
confuso
desprotegido
quebradiço

: quase
agora
eu tinha chão
aqui

onde acaricio
com a planta
dos pés

o
teto do abismo.

Horizonte

quando nasci
ganhei
um Norte
um Sul
um Leste
um Oeste

mais tarde
percebi
que
havia um muro

construído
em mim.

Birra

( plano A, plano B e plano C )

se você
não voltar
agora
- eu paro
de respirar

se você
não voltar
logo
- eu paro
de te esperar

se você
não voltar
algum dia
- eu prefiro

que
você não volte.

Descuido

o deserto
que me atravessa
era um pote

minha sede caiu
lá dentro.

Pieguice

antes
- eu
me perdia
em você
- você
se perdia
em mim

depois
- eu
te perdi
- você
me perdeu

: nós
dois
perdemos

o
significado.

Imanente

paraíso
labirinto
ou
preci/
pício
o céu

é um lugar
em mim
: eu

voaria
pra lá
agora
se soubesse
onde

estou.

Fúria

Quase
corta
o papel
o risco
assanha

poemas
monstros
que eu
não
mostro.

Tão triste que...


a queda
destempera

o aço
do abismo.

insônia

as
quatro letras
da palavra
cama
rangendo

a
noite inteira
rangendo
(há milênios)

o
silêncio
todo trincado
pode
desabar.

Crônica

Meu vizinho barulhento
não me deixa escrever
- o mal amado
conhece minha fraqueza
sabe que
estou em desvantagem

eu preciso de poemas...
eu preciso de poemas...
eu preciso de poemas...
preciso de
poemas pra ser
um idiota completo

e
ele não precisa de nada.

Afasia

o espaço
em branco
o branco
no espaço

onde
um poema quase
quase acontece
(jamais)
quando

o espaço
ainda
cabe em si
e na cor.

Bilhete (que não enviei)

eu não tenho casa
não tenho carro
nem dinheiro
eu não tenho sabados
não tenho domingos
nem feriados

eu só tenho:
este carinho
este abraço
este beijo
e essa Vontade
que dói tanto

e não serve pra nada.

Bifurcação

havia
uma
dúvida
naquele silêncio

um
silêncio
naquela dúvida:

dois
caminhos
e nenhuma ponte
sobre
voando
o abismo.

Busca

estendido
no infinito

tentáculo
telescópio

tateando
a viagem

que sobrou
da estrela.

"Sabe que vai chover"

este
sorriso
amarelo

con/
veniente
(mente)

costurado
na
cara

é minha
única
cicatriz

que dói.

das limitações

os poemas
são
todos iguais

: às mil
faces
do espanto.

um Nome

a Luz
das
suas
iniciais

já não
me
acende
mais.

eu sou assim...

tudo
que ganho
me ganha
também

tudo
que perco
me perde
também.

Sem pressa

sou poeta
de um poema
inacabado

: ainda
espero
o inesperado.

Astronomia

acolhido
no
silêncio
do
mistério

tem
um
passarinho
morto

(chocando
o
sol).

Limitação

não sei onde
dorme a palavra
Pássaro

nem como
acordá-la do vôo.

De circunstância

quando
o invisível

toca
o intocável

: eu
vejo e sinto
e quase

consigo
dizer
o indizível.

Inconcluso

teu silêncio
não me acordou
pra vida

só interrompeu
o sonho.

Momento

tem dia
que o poema
se parece
muito comigo

: só precisa
de uma
ou duas
palavrinhas.